Futuro
Acréscimo de investimento dos rivais exige reformulação das Lobas
Completando 27 anos, projeto unifica categorias sub-17 e sub-20 e não disputará campeonatos oficiais neste ano, com foco na próxima temporada
Foto: Aline Klug - Especial DP - Penúltima edição do Gauchão registrou a aparição mais recente do Pelotas na categoria adulta, em 2021
Prestes a completar 27 anos, na próxima terça (25), o projeto das Lobas enfrenta hoje uma “encruzilhada”, como define o coordenador Marcos Planela. Uma das principais razões é o retorno dos maiores clubes do País ao cenário do futebol feminino, com um investimento que os menores não têm condição de chegar sequer perto. Entre as saídas para tentar garantir viabilidade, então, estão a unificação das categorias sub-17 e sub-20 e a opção de não disputar nenhuma competição oficial neste ano.
Até o fim de 2023, a equipe feminina do Pelotas fará apenas amistosos – jogos ou campeonatos – pelo Estado. O elenco será definido a partir da última semana de julho, após o aniversário, com foco na formação de uma espinha dorsal capaz de participar de competições adultas oficiais na próxima temporada. É uma maneira de tentar minimizar o impacto do abismo econômico, presente inclusive dentro dos torneios gaúchos.
“Muita coisa que era possível fazer sem ter recurso a gente conseguiu. A gente se aproximou das universidades em Pelotas, que nos trouxeram profissionais e acadêmicos que qualificaram o nosso planejamento e execução de treinamento. Parcerias com academias, clínicas de fisioterapia… Então avançamos muito, mas em determinado momento só o dinheiro resolve”, reflete Planela.
O idealizador e coordenador do projeto afirma que já houve uma série de contatos com a Prefeitura de Pelotas e até mesmo com o governo do Estado. Porém, questões burocráticas envolvendo o clube costumam travar avanços. Historicamente, jamais se conseguiu garantir um valor mensal para custear as despesas no nível desejado.
O retorno dos grandes
Como trouxe o DP nesta quarta-feira (19), as Lobas construíram reputação positiva em um contexto no qual os grandes times brasileiros ignoravam o futebol feminino. A partir de 2017, entretanto, o cenário foi sofrendo transformações. A crescente visibilidade da modalidade é fruto de investimentos consideravelmente superiores, o que cria uma distância cada vez maior.
“Eles captam as melhores jogadoras do interior, mas trabalham em uma lógica, na base, de levar as meninas a Porto Alegre. E em Porto Alegre as meninas já recebem ajuda de custo a partir do sub-17. E tem um apelo muito grande, então vêm meninas de vários lugares do Brasil”, argumenta Planela, citando a dupla Gre-Nal como referência nacional principalmente nas categorias de base.
O Campeonato Estadual resume essa mudança de rota. Até 2016, a competição era organizada pela Associação Gaúcha de Futebol Feminino, com chancela da FGF. De 2017 para cá, a Federação passou a encabeçar o torneio. E se antes os campeões variavam, as últimas seis edições terminaram com os mesmos finalistas: Grêmio e Internacional. As Lobas venceram o caneco em 2008, batendo o Juventude na decisão, nos pênaltis.
Entre o social e o competitivo
O coordenador das Lobas enxerga avanço do projeto em dois sentidos: o competitivo, com foco no resultado, e o social, voltado ao desempenho escolar e profissional das meninas. Atividades extracampo são frequentes, como testes de conhecimentos gerais e de redação e envolvimento em campanhas de cunho social. Porém, Planela vê um “meio do caminho”, sem encontrar recursos para priorizar nenhum dos dois lados.
“Não conseguimos um grande financiador pra sermos um projeto social – por exemplo, o Poder Público – e nem conseguimos avançar na estrutura pra nos mantermos competitivos num novo cenário com Inter e Grêmio chegando fortes”, diz, lembrando também que clubes como Juventude, Elite (de Santo Ângelo) e Flamengo Yucumã (de Tenente Portela) foram outros a ter maior investimento.
“Se a gente tivesse um orçamento de R$ 10 mil por mês, por duas temporadas ou três, seria obrigação nossa se tornar um time de Série A-2 de Brasileiro, entrando via A-3. E esse ano ficou claro que isso é totalmente viável e possível pelo Juventude”, complementa Planela, ao lembrar do acesso do time de Caxias do Sul para a segunda divisão nacional.
O idealizador das Lobas finaliza com uma reflexão. “A gente caminha pra uma encruzilhada. O que vamos fazer com o projeto daqui a cinco anos? Não falo nem de mim. Vamos caminhar pra nos tornarmos um projeto de escolinha, com viés social? Ou vamos dar uma guinada forte, visando resultado?”. É essa pergunta que começará a ser respondida no 28º ciclo do projeto, enquanto o Mundial leva o futebol feminino a um recorde 180 países pelo planeta.
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